A expressão “viver de day trade” vem do conceito de ter a atividade como trader, mais especificamente day trader, como principal fonte de renda. E como o trading é especulação financeira, viver de day trade, significa na prática, ter como principal fonte de renda, a especulação nos movimentos (alta e baixa) de preços intraday (que acontecem dentro do período de um dia), de produtos negociados na bolsa de valores.
Se ainda não está habituado com o que um trader faz, veja esse post. Mas se já entende o que é day trade e o que um trader faz, você sabe que a atuação dele se baseia na variação e seus resultados também são variáveis. Ou seja, em um dia o day trader pode um excelente resultado, com uma ótima performance e ganhar dinheiro. Já em outro dia, pode ter prejuízo e perder dinheiro.
Ter resultado variável, com amostragem contínua, construindo assim um valor médio desse resultado, que por estatística tende a ser continuado, caso os parâmetros utilizados para a construção dele se mantenham.
Isso é o day trader faz na prática quando tem como renda, o lucro da sua performance.
Quais as dificuldades para ser day trader?

Ser day trader não tem necessariamente a ver com viver apenas dos lucros no day trade e ter ou não a atividade como principal fonte não muda as dificuldades, apenas seu nível de intensidade. E isso se percebe desde já na própria lógica de “viver” de um resultado variável.
Contas de água, energia, aluguel, alimentação, lazer etc. Podem ser variáveis no preço, mas são fixas e recorrentes, tendo uma periodicidade que pode ser contabilizada mensalmente. Ou seja, de um jeito ou de outro, essas contas sempre existirão. E essa já é primeira dificuldade do day trade.
Se a entrada de capital é variável, como utilizá-la para cumprir a obrigação de arcar com custos fixos e contínuos? Para isso, é necessário fazer um planejamento financeiro que abarque as situações que o trader pode se encontrar, principalmente nas situações ligadas diretamente à sua performance. Por exemplo:
Se um trader tem um resultado ruim em determinado mês, sua estrutura de vida não pode ser abalada. Se perde dinheiro nesse mês, tem que ser uma perda já prevista em seu planejamento e que não atrapalhe em nada no pagamento de suas contas e demais custos.
Isso pode parecer um tanto estranho para quem está habituado a regularidade contínua e fixa de entrada de capital (recebíveis), mas é algo que uma empresa lida continuamente. Isso não significa que todas empresas podem quebrar a qualquer momento ou que ter uma empresa seja algo ruim e que não “vale a pena”. Significa apenas que dentro do planejamento da empresa, já está previsto que períodos com baixo faturamento podem (ou vão) acontecer e que ela está preparada para isso.
Manter regularidade, com a gestão adequada à sua realidade. Essa pode ser destacada como uma das maiores dificuldades de um trader. Além dessa, podemos também destacar:
- Manter a atuação sólida com lucratividade que já foi estatisticamente comprovada;
- Desequilíbrio financeiro e excesso de risco;
- Manter controle estatístico da atuação;
- Manter disciplina operacional e financeira;
- Manter disciplina de gastos pessoais;
- Manter controle de caixa real, com diferença entre capital de trading/investimentos (matéria prima) e capital pessoal;
- Manter a evolução patrimonial dentro do planejamento sem aportes maiores ou menores do que devem ser feitos.
Perceba que a maioria dos problemas que destacamos estão relacionados a gestão do próprio negócio em si e não referentes aos trades (negociações). Isso porque o trader, quando atuante, já tem seus resultados aferidos e estatisticamente validados. Perceba que nesta frase, destacamos em negrito uma parte muito importante, “já tem seus resultados aferidos…”.
Essa parte é extremamente importante, pois assim como uma empresa mantém toda sua estrutura de gastos e administração sob controle, o trader também precisa ter sobre sua atuação. E aqui identificamos algo que corrobora às últimas pesquisas feitas no Brasil, sobre a quantidade de pessoas que tem prejuízo no day trade.
Quantas pessoas dão certo fazendo day trade

Em 2019, uma pesquisa feita a pedido da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a autarquia responsável por normatizar, fiscalizar e regular produtos de valores mobiliários, indicou que em torno de 90% das pessoas que fazem day trade tem prejuízo. Essa pesquisa não contemplou a qualificação da amostragem, não identificando quem de fato tinha conhecimento e capacidade para atuar em uma das modalidades de negociação mais difíceis que existe. Tal dado também seria improvável de se conseguir, visto que não há regulação ou controle de quem pode ou não negociar na bolsa de valores.
Mas independente da forma que essa e demais pesquisas foram conduzidas, a questão da maioria das pessoas perderem dinheiro no day trade é um fato. E isso não é nenhuma novidade, nem no Brasil, nem em outros mercados, onde pesquisas e aferições são feitas há anos e trazem em média o mesmo resultado, que é de apenas 5% a 20% das pessoas que fazem day trade tem lucro e continuam atuando por mais de um ano.
As porcentagens mudam um pouco conforme ano e país, mas se mantém na mesma média, levando ao resultado aproximado de que apenas dois em cada dez pessoas fazem dinheiro no day trade e menos que isso fazem de forma consistente.
Porque tantas pessoas perdem dinheiro no day trade

Identificamos que a grande maioria das pessoas ao conhecerem a modalidade day trade, começam a atuar sem o mínimo de gestão financeira ou operacional. O espaço de tempo entre o primeiro contato com esse tipo de negociação e a atuação prática em si, ou seja, fazer a primeira negociação, é menor que 30 dias. Ou seja, se a pessoa conhece o day trade hoje, em menos de 30 dias ela já está com dinheiro na corretora ou banco já fazendo a primeira operação.
Além do início prematuro, identificamos também falhas relacionadas às dificuldades para ser day trader, que citamos anteriormente. De modo geral, grande parte das pessoas que hoje atuam no day trade, não tem o mínimo controle de sua atuação e não sabem identificar, a partir de dados, os parâmetros de maior e menor lucratividade do seu próprio resultado.
Isso acontece com quem atua e com quem vai começar a atuar, pois levando em consideração que em menos de 30 dias a partir de conhecer o day trade, a pessoa já está atuando, podemos considerar que dentro deste prazo, não é possível nem mesmo construir uma amostragem para validação de qualquer dado a ser utilizado para validação de lucratividade ou não.
Em suma, a pessoa conhece o day trade, antes de ter domínio da atuação em si já investe capital, perde esse capital em poucos dias e entra para a estatísticas de pessoas que não deram certo no day trade. Seguindo o mesmo caminho, temos pessoas que continuaram atuando, mas por problemas também relacionados às dificuldades para ser trader que mencionamos anteriormente, não conseguem evoluir na atuação e geralmente desistem no período de um ano. Podendo esse tempo ser ainda mais curto, conforme o sub perfil. Veja esse post que fizemos sobre os sub perfis para entender melhor.
O problema é o day trade?
Acreditamos que não. A modalidade em si não tem culpa de nada e percebemos que o problemas circundam mais a região da falta e da falha na informação, que fazem pessoas terem uma percepção destoante da realidade da real atuação no day trade e isso acarreta uma série de problemas, dentre eles o financeiro e até o psicológico.
Identificamos que muitas pessoas que tentam ou já tentaram atuar no day trade, nem precisariam se expor ao risco da atuação dessa modalidade, se levarmos em consideração seus objetivos financeiros diante da sua estrutura de capital, prazos e risco. Mas que mesmo assim optam por fazer esse tipo de operação, por motivos que saem fora do escopo financeiro e que já abarcam desejos pessoais e até mesmo motivações não financeiramente saudáveis transformando o trading em uma espécie de jogo de sorte ou azar.
Apesar de ser mais acessível financeiramente devido a baixa exigência de capital como margem para fazer day trade, ela não é a única. Existem outras modalidades de trading e investimento em bolsa de valores. Todas de alto/altíssimo risco e que, ao menos para nós, exigem a mesma formação que o day trader, mas que tem em sua prática do dia a dia, mais tempo para tomada de decisões e menor possibilidade de se cometer erros como o de se expor a riscos financeiros muito elevados. Mas que se mantém na esfera de alto/altíssimo risco, pois a atuação se dá a partir da atuação na movimentação de preços e decisões erradas podem acarretar enormes prejuízos. Não de forma tão rápida quanto acontece no day trade, mas de forma contínua e intermitente ao longo de anos.